Reprodução - Vaticano
Nascido em 1945 na Guiné, então uma colônia francesa, Robert Sarah cresceu em uma família que se converteu do animismo ao catolicismo. Sua história é marcada por desafios e resistência, desde a perseguição religiosa sob o regime marxista de Ahmed Sékou Touré até sua ascensão como um dos cardeais mais influentes da Igreja Católica.
Hoje, aos 79 anos, Sarah é visto como um dos principais nomes na sucessão do Papa Francisco, cuja saúde frágil aos 88 anos tem intensificado debates sobre o futuro do pontificado.
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Ordenado sacerdote em 1969, Sarah enfrentou um dos períodos mais sombrios para a Igreja na Guiné. O regime de Sékou Touré confiscou propriedades da Igreja e prendeu líderes religiosos, mas Sarah manteve-se firme em sua missão. Aos 34 anos, tornou-se arcebispo de Conacri, onde se destacou como um símbolo de resistência, defendendo a independência da Igreja frente à opressão política. Sua coragem e habilidade diplomática lhe renderam respeito internacional, culminando em sua nomeação como Prefeito da Congregação para o Culto Divino (2014-2021) pelo Papa Bento XVI.
Dom Robert Sarah é um dos expoentes máximos do conservadorismo católico. Durante seu mandato no Vaticano, ele promoveu a liturgia tridentina (em latim) e defendeu a celebração da missa “ad orientem” (com o sacerdote voltado para o altar), práticas que, segundo ele, restauram a sacralidade do culto. Em seus livros, como “Deus ou Nada” e “A Força do Silêncio”, Sarah critica o secularismo e o relativismo, enfatizando a necessidade de recentrar a fé em Deus e na tradição.
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Suas posições firmes em questões morais também chamam a atenção:
Em uma entrevista, ele declarou: “O colonialismo ideológico ocidental está impondo agendas imorais aos países africanos em troca de ajuda financeira”.
A postura de Sarah contrasta com a abordagem mais inclusiva do Papa Francisco, gerando tensões dentro da Igreja. Em 2021, ele coassinou com Bento XVI o livro “Do Fundo do Coração”, que defendia o celibato clerical e foi visto como uma crítica indireta ao atual pontífice. Sarah é frequentemente visto como um cardeal opositor a Francisco, o que alimenta especulações sobre seu papel em um futuro conclave.
“Quando a liturgia está doente, toda a Igreja está em perigo”, escreveu Sarah, ecoando sua visão de que a modernização excessiva ameaça a essência da fé católica. Sua possível eleição como papa refletiria não apenas uma escolha geográfica ou racial, mas uma decisão doutrinária crucial para o futuro da Igreja.
Robert Sarah personifica a tensão entre preservar a tradição e adaptar-se aos novos tempos. Enquanto o Papa Francisco busca uma Igreja mais aberta e inclusiva, Sarah defende um retorno às raízes da fé católica. Sua possível ascensão ao papado seria um marco histórico, não apenas por sua origem africana, mas por representar uma escolha clara entre continuar no caminho da modernização ou retornar a práticas mais tradicionais.
Enquanto a saúde de Francisco permanece frágil, o debate sobre o futuro da Igreja Católica só tende a se intensificar. Dom Robert Sarah, com sua trajetória de resistência e suas convicções firmes, está no centro dessa discussão.